6.12.08

Requiem para um irmão

Acabo de receber uma notícia muito triste. É que um grande amigo deixa a vida pra conquistar a vitória sobre a morte. Nos conhecemos trabalhando na revitalização de uma casa de espetáculos famosa na Lapa, em 2002. Ficamos muito amigos. Trabalhamos juntos, no mesmo setor, quando a casa reinaugurou. Quando acabava o serviço, tomávamos uma cerveja e íamos olhar a 'frequência' do local, tomávamos outra cerveja e dávamos umas boas risadas com os acontecimentos e figuras esquisitas que pintavam na noite. Naqueles dias, ele dizia que "o diabo tinha deixado o alçapão do inferno aberto pra uns desgraçados darem uma volta." Ele tinha quatro filhos, cada um parido de uma mãe diferente. Era um bom pai.

Perdemos o contato quando eu resolvi, por motivos pessoais, sair de lá. O trabalho noturno ali na Lapa é o cemitério de todas as poesias. O tipo de entidade (física ou não) que por ali circula exige que você tenha o corpo muito fechado. E minha armadura estava apresentando sinais de desgaste. Tava enferrujada.

E não deu outra. Fui sabendo, através de relatos, da queda do grande amigo, que morava ali mesmo, na Joaquim Silva. Perdeu o emprego. Ganhou uma doença. Perdeu a audição. Ganhou problemas.

Não conseguia mais achá-lo no celular, nem o encontrava quando, contrariado, eu me dirigia ao bairro dito boêmio.

Encontrava com a sua mãe, às vezes, mulher forte, guerreira. Mais uma pra você segurar.

Devo ao Júnior muitas coisas. Gostávamos de brincar com quem pedia informações, ao nosso juízo, estúpidas, chamando-os de 'chat-amizade'. Sempre tínhamos um 'babalu' pra oferecer às moças desavisadas. As duas meninas, aliás, que trabalhavam conosco, uma franzina e outra mais pacotuda, chamávamos de 'CG 125' e 'Twister', respectivamente. Virava pra mim várias vezes, e falava essa frase, com um puta sorrisão e os olhos arregalados: "- Deixa eu falar com o coroa ali, que playboy eu prancho logo!", em alusão a um episódio que passamos juntos. E nos mijávamos de rir. Quando trabalhávamos dobrado - e ganhávamos dobrado - ele gritava: "- Doblô!" e dizia que ia "tomar um bom café da manhã". E quando se referia a alguém que não inspirava muita simpatia, falava simplesmente : "- ah, aquele pateta". Júnior era um cara com um nível de cultura e esclarecimento impressionantes. Já tinha feito muitas coisas, trabalhado em muitos lugares. Grande figura. Sujeito-homem.

Fiquei lhe devendo uma fita K7 - que hoje dificilmente são encontradas - com uma lista de músicas que ele pediu. Nunca entreguei, e ele sempre me sacaneava por isso.

Espero que você esteja num lugar mais justo, meu irmão. E em paz. Serenidade. E busque a luz, por mais fraca que seja, se a escuridão te abraçar aí. Nós já conversamos sobre isso. Você tá ligado. Olha pra luz e pede, que ela vem te buscar. Sem medo.

Vitória sobre a morte!

2 comentários:

  1. Mano junior que deus esteja com vc nessa inmencidao de mundo espero que vc esteja em um lugar muito bom todos aqui em baixo estomos olhando pro vc aqui e que vc descanse em paz meu amigo meu irmao...

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