26.12.08

Memórias empoeiradas



Olhares. Trocávamos mais olhares que palavras. Ela nunca esperava o dia ficar claro pra ir embora. Tenho pra mim que ela se achava 'charmosa' saindo à noite, sem me acordar. Deve ter visto muito filme, penso. O sincero visto como novidade.

Ela tomava uma caipirinha de morango quando a vi pela primeira vez. Disse que se interessou porque eu a olhei nos olhos mas não disse uma palavra. É claro, eu estava trabalhando. E 'onde se ganha o pão não se come a carne', como dizem. Nesse dia acordei na casa dela, mas saí de dia. Não lembrava onde tinha parado a moto.

Muitas vezes ela fazia as unhas na cama. Tinha uma verdadeira obsessão com a administração de suas unhas. Eu ficava num canto bebendo outro copo, esperando ela terminar e admirando aquela cena. Ela tinha o rosto estampado em algumas traseiras de ônibus, num anúncio de uma famosa franquia de cabelereiros, maravilhosa. Detalhe que ela nunca me falou, eu reparei e comentei com ela que tinha achado parecido.

Deixou umas fotos comigo, que acabo de achar. Belas fotos. No final, quando tudo acaba, as pessoas viram fotos dentro da sua cabeça, acho. Você resgata aquela imagem da pessoa fazendo uma pose, lembra de uma ou outra coisa que viveu... Mas o que foi sentido - e se foi - se perde em algum lugar. Talvez o cheiro fique, o que não deixa esquecer que somos animais.

Eu tinha 17 anos. Ela era onze anos mais velha. Me ensinou a beijar com vontade. Luciana era seu nome. Nunca mais a vi.

'- É L'eau d'Issay que você tá usando?'




Um comentário:

  1. e você ainda reclama daquelas suas fotos que achei jogadas na gaveta ... um dia serão boas lembranças ... ahhaah quem sabe um dia!

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