22.3.09

Tertúlia acadêmica





"Professor,

A respeito do 'debate' promovido durante a aula de psicopatologia forense de hoje, não sou ousado e nem me sinto autorizado por conhecimento ou experiência suficientes para comentar acerca da visão prática exposta pelo Sr., em oposição a uma visão supostamente acadêmica. Não sou romântico a ponto de pensar que a reforma psiquiátrica já foi feita e que tudo corre bem nos manicômios por aí afora. Barbacena ainda está aí. O IPUB, como foi dito pelo Sr., também está. E tantos outros institutos que merecem menor destaque na mídia e na academia continuam a preferir, por carência de investimentos, despreparo dos profissionais e por simples praticidade as práticas antigas de internação e o malfadado eletrochoque como políticas de saúde mental.

Tinha pra mim, até a aula de hoje, como certos o avanço das formas alternativas de tratamento e a abolição desses métodos arcaicos de sanatório, objetos de luta de tantos anos do movimento antimanicomial. Me parecia que com tanta dissertação de mestrado e doutorado sobre a desinstitucionalização, a reinserção supervisionada do usuário e outros tópicos afins à corrente antimanicomial, a prática estaria fluindo da academia para o campo de atuação profissional. Acreditava, ainda, ser esta uma corrente majoritária dentre os psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, enfim, os envolvidos na distribuição e execução da saúde pública.

Refletindo depois sobre tudo o que foi dito, de fato, a diferença entre uma inopinada administração de haldol, diazepam, rohypnol ou prometazina no usuário só difere do eletrochoque quanto aos efeitos colaterais. Não é, portanto, uma diferença qualitativa. E saí da aula com a certeza que a reforma psiquiátrica é muito - mas muito mesmo - mais complicada do que parece. Espero apenas que a complicação não imponha óbices intransponíveis ao miúdo progresso já realizado.

Abraços e um excelente final de semana,"



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