22.4.09

Falando sobre sentimentos alheios






Talvez seja mais diplomático saber lidar com cobranças. Sem sombra de dúvida é fácil manipular as pessoas exigentes, atendendo-as nos seus petitórios mais dezarrazoados. Aliás, as pessoas temperamentais são as mais fáceis de serem manipuladas, pois suas atitudes são todas previsíveis. Enfim.

E assim, para aqueles que permancem alimentando e se satisfazendo com uma visão mercantilista de relacionamento, onde a todo instante sopesa-se o que foi dado e o que foi recebido em troca, há suposta legitimidade para a formulação de outras tantas exigências - sempre citando aquelas que ora foram atendidas. Um círculo vicioso de quem fez mais, de quem deu o que em troca.

Ocorre que há muito perdi o saco de me relacionar assim.

Me abstenho, desde logo, de exigir qualquer coisa. Ora, cada um dá o que quer, ou o que pode. E estou convicto de que não se trata de simples fuga isso. Somos livres pra escolher em quais lutas queremos lutar. Quais valem a pena lutar.

O rancor que nasce quando chocam-se a ardente exação emocional e a indiferença de quem não é adepto do mercantilismo emocional é algo lastimável. Faz as pessoas, como se diz, perderem o juízo, e passam a falar grandes bobagens. Dou um desconto por não ignorar que altas dosagens de estrogênio & progesterona tem um singular e inafastável efeito na psiquê feminina.

Confira-se:

"Vou ficar por aqui mesmo, ja é tarde, acho que esta folgado demais querido. Uma paradinha em Botafogo no meio do caminho nao custava nada.
Talvez esteja boxeando...
Você gosta mesmo de fazer correr as mulheres ...esse papo de nao querer se comprometer deve atiçar o tesão das moças, achando ainda que vao te salvar e te mudar"

Algumas premissas: (i) a maior pretensão que pode existir na mente de uma pessoa é querer ser dono de alguém; (ii) a segunda maior pretensão é acreditar que se é responsável pela promoção da tristeza ou da alegria de outrem; e (iii) a terceira maior pretensão, que julgo ser algo até patológico e muito mais temerário que as outras duas premissas, é acreditar que alguém é responsável pela promoção da SUA tristeza ou da SUA alegria.

A única salvação em que me permito acreditar é a religiosa. A única mudança em que acredito é a reforma íntima.

O resto, peço perdão pelo termo, é psicologia barata.

Aprenda a cuidar do seu humor, meu bem. Tire os sapatos. Aumente o volume. Bata mais forte. E tente ser real.

Não responderei ao e-mail.



"- Viva a mulher simples e descomplicada!"
Pablo Viany


Um comentário:

  1. como vc mesmo colou num outro post, sobre o estrangeiro, tem tudo a ver:

    "Maria veio buscar-me à noite e perguntou-me se eu queria casar com ela. Respondi que tanto me fazia, mas que se ela de fato queria casar, estava bem. Quis então saber se eu gostava dela. Respondi, como aliás respondera já uma vez, que isso nada queria dizer, mas que julgava não a amar. "Nesse caso, porquê casar comigo?", disse ela. Respondi que isso não tinha importância e que, se ela quisesse, nos podíamos casar. Era ela, aliás, quem o perguntava, e eu contentava-me em dizer que sim.

    Maria observou então que o casamento era uma coisa muito séria. Respondi: "Não". Maria calou-se durante uns instantes e olhou-me em silêncio. Depois, falou. Queria simplesmente saber se, vinda de outra mulher com a qual estivesse relacionado do mesmo modo, eu teria aceito uma proposta semelhante. Respondi: "Possivelmente".

    Perguntou então de si para si se gostaria de mim, mas, sobre esse ponto, como poderia eu saber alguma coisa? Depois de mais uns instantes de silêncio, murmurou que eu era uma pessoa estranha, que gostava de mim se calhar por isso mesmo, mas que um dia, pelos mesmos motivos, era capaz de passar aos sentimentos contrários. Como eu me calasse, por não ter nada a acrescentar, tomou-me o braço a sorrir e declarou que queria casar comigo."

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