4.4.09

O fogo interior




A saudade é uma representação sentimental elaborada. É um artifício bem pernicioso criado pela mente humana, hedonista, forçando o sujeito a fugir de uma suposta dor e se entregar a algum conforto imediato. Tanto é que esse conforto, muitas vezes se resume a um encontro inapropriado, uma ligação inconveniente, um recado mal dado, um gesto incompreendido.

Estabelecer para si mesmo os limites da influenciação do pensamento sobre as próprias atitudes é uma conquista que todo ser humano deveria almejar; a impulsividade, via de regra, traz péssimas consequencias. Invariavelmente, a pessoa impecavelmente controlada perde a sua natureza espontânea.

Longe de ser uma mera ostentação de um comportamento demasiadamente estudado, o critério na publicidade dos sentimentos reais é um eficaz remédio.

Já ouvi dizer que o inferno é um líquido tóxico que fica alojado numa pequenina bolsa em nosso cérebro. Após um profundo, porém instantâneo julgamento - e se o veredito for culpado - este líquido será lançado em seu sistema nervoso central. O efeito real é de apenas alguns segundos. Mas para o 'réu', a sensação alucinatória será como um tormento eterno.

Por isso não creio em culpa.

E não preciso sorrir, onde não há câmeras, como diz o Mutarelli. É. Mergulhar fundo dentro de si passa muito por abdicar do diálogo social. Principalmente o improdutivo e vulgar. É abrir mão completamente dos gestos de almanaque.

Impecabilidade em alta.

“Os guerreiros da liberdade total escolhem o momento e o modo de sua partida deste mundo. É então que os consome um fogo interior e desaparecem da face da terra, livres, como se nunca tivessem existido”.

- Dom Juan, em 'O Fogo Interior', de Carlos Castañeda



Um comentário:

  1. Oi, essa citação do inferno é de autoria de Lourenço Mutarelli; você sabe me dizer qual o nome da HQ que tem essa frase?
    Tem uma gravura: http://migre.me/cY91b

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