3.12.08

O alfa


Um modelo chinfrim desses e pronto... mais um 'blog' que aparece. Sempre achei meio devassidão escrever para que outras pessoas leiam. Que me perdoem os honrados profissionais da escrita. Mas estimulado pelo amigo Fusca, e acobertado pelo relativo anonimato me senti à vontade para escrever.

Acontece que nesses anos tenho me deparado e convivido com coisas pitorescas demais para guardá-las só para mim, e não sei por quanto tempo me lembrarei delas. Muitas já se escoaram pelo ralo do esquecimento. Creio - e espero - que os servidores do google sejam um bom repositório para minha frágil memória.

Não tenho a pretensão de discorrer sobre a natureza humana. Não. Meu ponto de vista tende a ser o da natureza humana 'elevada-a-menos-um'. O que sempre me chamou a atenção foi o inesperado... o bizarro, o irracional.

É da natureza do homem ser racional? Talvez. Se comportando como uma presa, usando toda as suas faculdades racionais o homem não passa de uma vítima dos seus pensamentos. Pondero que toda a razão tem hora e lugar certo para ser usada. Eu mesmo no 'cotidiano' sou mais um burocrata de mierda, supostamente comprometido laboralmente. Ser capaz de enganar 'burocratas-seniores' com uma bela apresentação no powerpoint. Mentir para o chefe e fazê-lo acreditar no que você disse, repassando a informação adiante. Manipular uma mulher até ela achar que faz o que quer porque quer. Isso é racionalidade.

Mas fora os momentos de racionalidade, que confesso, não são muitos, impera a 'loucura controlada'. Seja por força da vontade ou por pela inexorável via da farmacocinética.

Pretencioso demais? Paciência.

O título vem da obra homônima de Charles Bukowski. Lembro de ter tido acesso ao livro em tenra idade, alhures, na casa de algum parente, penso. Um trecho ficou para sempre gravado na minha cabeça... e agora terei o prazer de reproduzir. Quem tiver olhos de ler, que leia:

"Sempre destacavam novatos pra limpar a sujeira dos pombos e enquanto a gente ficava limpando, os desgraçados voltavam e cagavam de novo no cabelo, na cara e na roupa da gente. Não se ganhava sabão - apenas água e escovão, e tinha-se que fazer muita força pra tirar toda aquela porcaria. Mais tarde mudava-se pra oficina mecância, onde pagavam 3 cents por hora, mas quando se era novato, a primeira coisa que se fazia era limpar merda de pombo.

Eu estava junto quando Blaine teve a idéia. Viu, parado no canto, um pombo que não podia mais voar.

- Escuta - disse ele, - eu sei que esses bichos falam uns com os outros. Vamos fornecer assunto para aquele ali. A gente dá um jeito nele e joga lá pra cima do telhado, pra contar pros outros o que tá acontecendo aqui embaixo.

- Tá legal - concordei.

Blaine se aproximou e levantou o pombo do chão. Tinha uma pequena gilete enferrujada na mão. olhou em torno. Estávamos no canto mais escuro do pátio de exercício. Fazia muito calor e havia uma porção de presos por perto.

- Algum dos cavalheiros presentes não gostaria de me auxiliar nesta operação?

Não houve resposta.

Blaine começou a cortar a pata do pombo. Homens fortes viraram as costas. Vi um ou dois, que estavam mais perto, cobrindo a fronte com a mão para não enxergar.

- Porra, caras, o que é que há com vocês? - gritei. - A gente já tá farto de ficar com o cabelo e os olhos cheios de merda de pombo! Vamos dar um jeito neste aqui pra, quando chegar lá em cima no telhado, poder contar pros outros: "Tem uns sacanas desgraçados lá embaixo! Não cheguem perto deles!" Este pombo vai fazer com que os outros parem de cagar na cabeça da gente!

Blaine joga o pombo pro alto. Não me lembro mais se a coisa deu certo ou não. Só sei que, enquanto esfregava, minha escova bateu naquelas duas patas. Pareciam estranhíssimas, assim soltas, sem estarem ligadas a pombo nenhum. Continuei esfregando e misturei tudo na merda."

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